sábado, 12 de setembro de 2009

Já tenho mais de 35, e agora eu realmente quero ser mãe, ou preciso ser mãe?


O século XX foi, sem dúvida, um marco histórico para a mulher. Se pensarmos que o divórcio data do final dos anos 70 e que, ainda assim, toda a mulher separada era segregada da sociedade, como se fosse a única responsável pelo (in) sucesso do casamento. Naquele tempo, embora observemos que existe ainda hoje em menor escala, o homem tinha quase que uma autorização social para ter relacionamentos extraconjugais, e a mulher cabia a aceitação, a criação dos filhos e a mantença da harmonia no lar. Nesse contexto, a luta da mulher pela sua liberdade de escolha, pelo seu lugar no mercado de trabalho, marcou o século XX, como o tempo de lutas e conquistas pelo direito da mulher.

Na atualidade uma das questões que faz parte do debate é a mudança do conceito de família, temos as uniões civis com pessoas do mesmo sexo, temos famílias que são formadas por pessoas que já tiveram uma ou mais uniões e resultantes dessas, filhos que tentam conviver dentro desse novo contexto, assim como casais que não pretendem ter filhos. No meu caso, optei por não ter filhos, sendo que meu marido teve um casamento anterior com quatro filhos.

No entanto, o que me fez pensar sobre a questão da maternidade foi a dúvida sobre o que é o instinto materno. Todas as mulheres tem? Eu não me sentia vocacionada para maternidade, seria um problema? Será que o instinto materno vem junto com a gravidez? O tempo foi passando e a pressão exercida pelo nosso relógio biológico foi ficando preocupante. Pensei, estou numa fase de estudos, tinha acabado de cursar uma pós-graduação e tinha sido aprovada para cursar o mestrado em direito. Estava super feliz com a idéia de alçar novos voos, conhecer novas gentes, interagir dentro de uma universidade reconhecida. Na época estava com 32 anos, o assunto passava pela minha mente, mas com as novidades, ficaram em segundo plano. Aproximando-se o final do mestrado e a decisão de voltar para cidade que escolhi para morar, pensei que então este seria o momento para pensar em filhos. Sobreveio um problema de saúde relacionado com a glândula da tireóide desencadeado pelo estresse do curso e alta carga de estudos, e com esse problema, pensei, mais uma vez, que não seria o momento para uma gravidez.

No decorrer do curso, até via o esforço de outras mães para suprir todas as necessidades dos filhos, deixar com parentes e conhecidos para desfrutar as aulas com serenidade, e outros ainda com filhos crescidos que era motivo de “dor de cabeça” constante aos seus pais, uns pelas mazelas da adolescência, outros por alguma incompatibilidade de gênios, incluindo a preocupação eterna do meu marido com seus filhos, que já cedo foram pais também, assim como ele.

E o tal instinto materno...!!! ele não aparecia na minha vida!!! Por quê? Em muitas ocasiões, quando era questionada sobre o tempo de casamento, assim que respondia, logo em seguida vinha a pergunta, quantos filhos? Eu dizia não tenho filhos, apenas meu marido e tem quatro. A pessoa olhava espantada, e às vezes, num arroubo de curiosidade, insistia, mas tudo bem contigo? Algum problema? Eu pacientemente respondia (e ainda respondo), tudo ótimo, mas por hora não pretendo ser mãe.

Confesso que isso muitas vezes assustava as pessoas, mas como assim, ela será que não sabe do tal relógio biológico? Será que ele não quer mais filhos? E se deixar para mais tarde pode ter uma gravidez com riscos? SIM, eu sei disso tudo, mas desisti de pensar que tenho algum problema por não sentir com vocação para maternidade. Porque se pensarmos bem, se toda a mulher deve desenvolver o instinto materno, isso logo, logo, chegaria ao caos, veja, só no Brasil o ultimo censo realizado data do ano 2000, e em 2007, objetivando atualizar as estimativas de população, registrou, aproximadamente, 184 milhões de habitantes, sendo que a população mundial alcança atualmente, em torno de 6,5 bilhões de habitantes, e se considerarmos o número de mulheres no período apto a reprodução, e se todas elas- com o devido instinto materno- acharem por bem todas serem mães, a estimativa da ONU de que em 2050 seremos mais 9,2 bilhões de pessoas na terra, ficará muito aquém do efetivamente será. E não é apenas uma questão de matemática, quantas mães nós observamos, no decorrer de nossa vida, que não deveriam exercer a maternidade, muitas abandonam seus filhos, outras atuam com desídia, grande parte, nem havia pensado no assunto, apenas teve um “acidente” de percurso, e outras ainda, em sua maioria, não tem condições de analisar a situação pela falta de uma educação que a instrua para o discernimento necessário. Filhos são pessoas, com vida própria, com interesses próprios e que podem ou não vir ao encontro do anseio dos pais, se constituem em preocupação constante desde o seu nascimento, e nos primeiros anos exigem dedicação em tempo integral, isso parece algo que as pessoas não enxergam com clareza, não tem qualquer interruptor de liga de desliga, necessitam de alimento, banho, carinho, atenção, aprendizagem, mas então como eu não sabia de tudo isso? Porque outra mãe não me contou? Maternidade é uma opção de vida, e diferente, alias completamente diferente da vida anterior, não posso simplesmente querer sair, para tudo existe uma programação, e é isto quem opta pela maternidade deve estar consciente. E não creio ser uma questão de individualidade ou egoísmo a opção por não tê-los, mas encarar como uma escolha, uma opção de vida.

Um comentário:

  1. Primeiro de tudo... tinha q ser tu... adorei teu blog. Ahhh não vou deixar de postar um comentário: eu já sou mãe.. (da Jujuba é claro) ainda não tenho 30 anos, mas já estou quase lá! rs Sempre sonhei em me formar, ser uma mulher bem sucedida profissionalmente, me imaginava trabalhando em uma grande empresa, numa capital... e acreditem: nem pensava em casar, mto menos em ter filhos... Mas o que aconteceu foi tudo ao contrário.. Conheci meu parceiro (meu amigo, meu companheiro, meu tudo, rs), e apartir daí enlouqueci... não vou contar toda a história pq é comprida demais.. vim parar no Tocantins.. longe de tudo e de todos só pra acompanhar ele nesta empreita, isto já fazem uns 6 anos.. em setembro de 2007 fique grávida, e com vários planos para minha vida profissional pela frente.. não tinha instinto materno algum, era egoísta, só pensava em mim, adorava festas, junção com os amigos em casa, qdo fiquei sabendo da gravidez entrei em choque, só eu e o Core (como costumo chamar ele), à 3000 km de distância da minha família, como é que eu vou fazer?? e com a gravidez, veio o tal do instinto materno, mas tbm vieram as incertezas... um turbilhão de sentimentos que nem sei dizer como passei por isto. Já fazem 1 ano e 4 meses que ela nasceu, a melhor, mas a melhor de todas as experiências que tive na minha vida, meus dias mudaram, viraram do avesso, e as manhãs de mau humor acabaram, por que qdo chego no berço dela ela tá sempre me esperando com um sorriso tão grande que faz a vida da gente valer a pena.. e eu me pergunto: Como foi que eu consegui viver sem a Júlia durante tanto tempo? O que quero dizer com isto é que admiro as pessoas q optaram por viver a vida sem ter filhos, mas os filhos, ahhh os filhos, estes só vem para nos acrescentar!! bjaooo Nani e que saudade tua!!

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